sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Mocumentário


Todos, certamente, sabem o que é um documentário. Não precisa ser nenhum profundo conhecedor para saber que se trata de um filme onde os fatos são apresentados de uma forma jornalística, ou seja, sem atores, sem diálogos, sem confrontos. O trabalho é todo constituído por meio de depoimentos ou imagens de arquivo. Agora mocumentário já é um termo que se coloca um pouco mais no canto. O Word chegou inclusive a sublinhá-lo.

Mocumentário, como o próprio nome indica, é uma espécie de documentário, porém, todos os fatos são ficcionais. Ao invés de contar uma história da forma convencional, toda a trama é delineada como se fosse um documentário, e claro, como se fosse real. Só não se trata de um documentário porque há um roteiro que foi decorado previamente pelos atores.

O filme mais velho que se utiliza desse particular formato, que eu tenho conhecimento, é Zelig, de Woody Allen. O filme conta a trajetória de Leonard Zelig, conhecido como homem-camaleão. A alcunha deve-se ao fato de que o personagem assume a personalidade daqueles ao seu redor, tanto trejeitos físicos quanto psicológicos. O filme é da primeira metade da década de 80.

Um trabalho mais recente é A Morte de George W.Bush. O filme conta a história do assassinato do ex-presidente dos Estados Unidos (assim todos já o consideramos). É um filme de razoável fama no meio alternativo. Talvez mesmo por resgatar o formato e por tratar de um assunto tão polêmico quanto um possível assassinato de uma pessoa tão conhecida quanto não muito querida como é o caso do personagem principal.

Esse tipo de filme instiga justamente essa curiosidade. No caso do último filme comentado, a partir do título podemos já nos perguntar como se deu esse assassinato, em que circunstâncias, por quem, onde, a reação do povo. Cabe somente ao talento do roteirista e do diretor responder essas questões de uma maneira satisfatória para que a obra tenha uma vida longa. Mas há uma dificuldade inerente ao mocumentário que deve ser ressaltada: o desenvolvimento. Quando se fala em documentário muitos já esperam uma obra lenta onde só aqueles que têm determinada intimidade com o tema abordado se interessariam. Com o mocumentário pode ocorrer o mesmo. Ainda que seja uma ficção, e que saibamos disso previamente, os roteiristas devem ter um trabalho redobrado para prender a atenção dos espectadores.

Para não ficarmos apenas com estrangeiros, citarei um nacional. Um filme de animação e recente. Estou falando de Dossiê Rê Bordosa. A famosa personagem dos quadrinhos foi “assassinada” pelo seu criador, Angeli. Como forma de entender o porquê dessa vil atitude foram feitas entrevistas com pessoas ligadas ao cartunista. Outros personagens de Angeli também aparecem dando depoimentos acerca do crime. Manchetes de jornal que trataram do caso são apresentadas. O filme, que é um curta-metragem, foi bastante bem recebido e tem sido laureado com vários prêmios pelos festivais por onde passa.

O cinema não é somente invenção, é reinvenção. Alguém já disse que todas as histórias foram contadas, e o que de fato pesa no valor artístico do seu trabalho é o como essa história é contada. Alguns se utilizam de narrativas não-lineares e outros de mocumentários.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Balouçar


Era perene a música que se ouvia ao longe. O balouçar também o era.

sábado, 25 de outubro de 2008

O uso correto do magarefe


Tentei por duas décadas. Imaginem vocês. Duas décadas. Passado esse período não consegui mais. Ou era ele ou eu. Chamei, chamei um magarefe amigo meu.

Paronímia


Ao contrário do que muitos pensam, a paronímia não foi inventada pelos Cassetas. Eles sequer cunharam o termo.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

A necessidade ubíqua da criação


Uma pergunta recorrente para quem trabalha com qualquer tipo de construção artística é aquela que ser refere ao processo de criação: como e onde se dá. Certamente o labor em cima da obra é em um local de trabalho daquele artista, mas aquele estalo primeiro ocorre em qualquer lugar, em qualquer situação. Tal e qual a necessidade de beber, que é inerente a nós seres humanos, ela não escolhe um só local para vir. Quando percebemos estamos com sede, seja em casa, na rua. A necessidade de criar também, só que para um número limitado dos mesmos seres humanos, aqueles conhecidos como artistas [1]. Por isso a chamo de necessidade ubíqua da criação. Pois ela se apresenta em todos os ambientes.

Eu mesmo tenho cá na minha pacata vida alguns escritos de minha autoria, pois digo, todos foram gerados num rompante. Essa é a parte não racional do processo, ao menos pra mim. Esse início tem que ser, e de fato o é, totalmente espontâneo. Não adiantaria eu me sentar na cadeira e dizer: “vou escrever um poema, um conto”. Nada sairia. Nada que preste. A idéia inicial surge, sabe-se lá como, e aí, sim, podemos trabalhá-la, lapidá-la.

O escritor Mário Prata já disse que por vezes se viu na situação de não ter como anotar determinada idéia que teve. A solução encontrada foi a de ligar para sua residência e deixar um recado na secretária com a dita idéia. Mas nem todas as idéias que surgem são salvas, muitas se perdem. Hoje a pessoa pode até mesmo gravar no celular, artigo de primeira necessidade para o indivíduo moderno, mas nunca se sabe, o celular pode não estar perto, sem bateria, e aquela idéia que era genial pode se esvair para sempre.

Se bem que nem toda idéia é genial. Lembro-me de uma entrevista do Lenine onde ele disse ter acordado no meio da madrugada com uma idéia aparentemente genial, ele a registra para trabalhá-la em uma outra oportunidade e quando vai ver, nada tinha de mais. Na verdade a expressão por ele utilizada é que era uma merda.

Mas o fato de não sabermos explicar como esse início se dá é o mais interessante no processo de criação. Justamente esse “vir de algum lugar”. Sim, porque a idéia vem por vontade própria, por assim dizer. Isso somente vem provar que nem todos podem ser artistas, pois é algo que é do indivíduo. Ele pode até se descobrir artista com uma idade avançada, mas curso não ensina ninguém tal ofício. Isso somente tende a aprimorar o processo de produção de seu objeto de arte, não incutir a arte na veia do sujeito.


[1] Eu disse artista, não celebridade.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Soho


Caiu. Não disse onde estava, não disse aonde ia. Fiquei com o fone na mão olhando minha face no espelho defronte. Quis pôr no gancho com a esperança de que retornasse o contato. Fiquei parado.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Metrô


Não sei como funciona o metrô em outras grandes metrópoles Brasil e mundo afora. Sei como funciona no Rio de Janeiro, cidade que resido. Sei, mas dispensaria saber se soubesse o que iria encontrar, manja? Conheci mais a fundo quando estagiava em uma localidade em que era preciso migrar para a chamada linha dois. Já disseram que toda experiência é válida. Óbvio que essa frase parte de um princípio apoiado no paroxismo, mas essa experiência específica ao menos serve para dizer neste blog que conheço.

O que pega mesmo é a hora do rush, como os metidos a estadunidenses gostam de falar; a hora que o pessoal vai para o trabalho e retorna para seus respectivos lares, ou respectivos lares de suas respectivas amantes ou amantes ou respectivos motéis em que marcaram com suas respectivas amantes ou amantes. Ou mesmo em respectivos matos haja vista a dificuldade econômica que, em se tratando de Brasil, não é privilégio de poucos.

Ocorre por vezes uma ritualização ao se pegar ou sair do metrô. Há malandragens e mais malandragens. O brasileiro por si tem fama de malandro, o carioca nem se fala, é o supra-sumo. O conterrâneo, para não ficar pra trás, tenta se igualar ao carioca. É possível, inclusive encontramos escolas para que os caboclos vindo de diversas cidades do nordeste saibam chiar, tal qual o carioca eXXXperto. Culpa do capitalismo que ao vislumbrar uma chance de lucro, lá se instala.

Continuemos de onde começamos: o metrô. Quando este se aproxima da estação de transferência, estação Estácio, alguns atletas profissionais (atletas são todos, profissionais são poucos) que sem dúvida estão há mais tempo, se preparam: arrumam os bonés, verificam suas mochilas, conferem o bafo - não me pergunte para quê - e então se postam frente às portas, feito os atletas olímpicos que verificamos em competições oficiais, no que podemos contatar um mundaréu de talentos desperdiçados. Bem no meio porque tão logo já se veja uma brecha para sair ele parte. Partiu. Com pressa. Chega a segurar o boné para não voar tamanha a pressão do vento com o seu movimento. Pula alguns degraus da escada. São dois lances, desce da mesma forma que antes. Chegou. Droga! O filho da puta do metrô não está. Eu, como não corro para pegar o metrô, nunca vi a cara de frustração de um desse competidores. Sim, porque correr daquela forma para chegar e não ter nada, no mínimo é desanimador. Broxante, par usar de termos sexuais práticos para que todos possamos gozar – agora sem cunho sexual – destas linhas.

Para quem pensa que a aventura está finda, comete um ledo engano. Há ainda a parte de entrar no outro metrô. As pessoas se colocam frente à porta empurram umas as outras, tudo para conseguir um lugar ao sol, digo, ao banco. Não entendo porquê se em muitos casos, como era o meu, a pessoa está se dirigindo ao trabalho onde ficarão o dia inteiro sentados. Já pensei que pudesse se tratar de uma questão de exercício, talvez aquele monumental esforço do nosso amigo corredor valha por uma caminhada moderada de alguns minutos. Resta saber se ele consultou um médico, se faz alongamento antes.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

A questão da vaia


Já fiz parte de uma banda de rock’n roll chamada Vaia. Isso mesmo, Vaia. O nome pode – como de fato sempre faz – causar uma certa estranheza à primeira audição. As pessoas sempre perguntavam se o nome foi baseado em alguma vaia que por ventura tenhamos recebido. Respondia sempre que não. De fato nunca fomos vaiados. As pessoas então perguntavam o porquê do nome. Há, caros amigos, uma explicação. Explicação tão cara que faço questão de expor nesse blog.

A vaia, ao contrário do que muitos, a maioria esmagadora, pensa, não é um sinal de falta de qualidade do trabalho apresentado, e sim, de desaprovação por parte do público presente. É muito diferente. Isso pode ocorrer por diversos fatores. Por exemplo, muitas vezes o artista está à frente de seu tempo, ousa mais do que é permitido por uma sociedade de visão tacanha. Ou simplesmente o público não consegue acompanhar a evolução do artista na mesma velocidade que ela segue.

Bob Dylan trocou o violão pela guitarra elétrica. Alguns fãs, à época desaprovaram com veemência, queriam que ele passasse o resto da carreira fazendo o que já tinha feito. Como artista ele sentiu necessidade de tentar, arriscar, ousar. A função do artista é se superar, não fazer o que já foi feito. No documentário No Direction Home, de Martin Scorsese, podemos verificar uma grande vaia para o artista em uma apresentação com guitarra e uma banda de apoio.

Outro exemplo, ainda dentro do campo musical, é o caso da música “Sabiá” de Chico Buarque e Tom Jobim. Os dois compositores foram os grandes vencedores do III Festival Internacional da Canção. Porém, um maracanãzinho lotado os vaiou. A eles e a Cynara e Cybele, intérpretes. O público queria que o primeiro lugar fosse para Geraldo Vandré e a sua “Para Não Dizer Que Não falei das Flores”, canção interpretada como convite à luta armada.

Para não dizer que os exemplos se limitam ao campo da música podemos lembrar também o caso de Anton Tchecov. A primeira encenação de A Gaivota foi um fiasco, tanto que o autor sequer ficou até o término da apresentação, saiu pela tangente. Hoje a peça é considerada um clássico do teatro mundial.

Não é difícil encontrar outras situações em que, se não houve vaia propriamente dita, houve um descaso por parte de público e crítica e, passado algum tempo a qualidade artística finalmente foi constatada. Van Gogh ilustra bem essa idéia. Quando vivo, vendeu apenas um quadro e hoje, suas obras valem milhões.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Pra bom entendedor


Meia palavra basta. Já diz o ditado. Bem que poderíamos dizer: para bom entendedor, um aforismo basta. Aforismos são sentenças que em poucas palavras transmitem uma idéia, um pensamento. Uma linha basta para compor um aforismo. É rápido e rasteiro o danado. Não precisa muito estudo para compreender, basta uma mente esperta, ligada, dotada de um certo senso de acuidade. Pronto.

Eles vêm aos borbotões. Todos inventamos, porém, nem todos guardamos. Quando digo que todos inventamos não estou mentindo, apenas omiti o que se refere à qualidade do que se é produzido. Um aforista que gosto bastante é Daniel Piza. No fim de seu livro Questão de Gosto ele, após excelentes ensaios e resenhas, nos brinda com um capítulo de aforismos. Até mesmo para relaxarmos. Nada de conclusões ao término; aforismos por conta da casa. Todos de sua autoria evidentemente.

Um deles, em particular, sempre me vem à cabeça: “Escrever não é prescrever”. Quantas vezes já não me deparei com escritos imperativos do tipo “faça isso, faça aquilo, faça assim, faça assado”. Há também – e ainda se encontra dentro da abrangência do aforismo em questão – aqueles escritos que somente taxam as atitudes, as coisas de certo e errado. Prescrevendo, desse, modo uma certa cura para alguns comportamentos da sociedade de seu tempo. Claro que não verificamos coerência alguma nesses escritos. Simplesmente impõe uma ordem ao bel-prazer do autor. Nota-se claramente que são trabalhos de principiantes, e pior, sem a menor aptidão para a escrita. Talvez um certo dom para engambelar as pessoas, nada mais.

Outro que se faz presente no livro, e que em época de eleição, será deveras salutar colocarmos aqui: “O Estado é um grupo de pessoas que se esforçam para nos deixar em mau estado”. Essa frase me remeteu a Aristóteles. O filósofo grego classificou três formas de poder: 1) paternal, o exercício do poder em benefício do filho; 2) político, o exercício do poder em benefício de todos; 3) despótico, o exercício do poder em benefício do governante. Não tem como não pensarmos que estamos em uma sociedade cujo poder é despótico. Milhões de reais são gastos em publicidade de obras paliativas dos governos. Um governo de verdade, ou seja, que usasse do poder político em vez do despótico, investiria essa verba em coisas reais, tangíveis.

Claro que os aforismos são carregados de sarcasmo e ironia. Meio encontrado pelo ser humano para não endoidecermos de vez com certas condições de nossas vidas. O sábio da esquina já dizia há muito que o negócio é “rir pra não chorar”. Dito isto, é pertinente a citação de um outro aforista magistral que é Millôr Fernandes: “O homem é um animal que ri, e é rindo que ele mostra o animal que é”.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Telenovelas


No Brasil as telenovelas ocupam um lugar de importância indiscutível. Queiram ou não os intelectuais mais reacionários. Aliás, é um dos maiores produtos de exportação que nós temos. Os personagens das tramas ditam modas de comportamento. Tanto no falar quanto no vestir. Quantos bordões já não caíram na boca do povo? Quantas vezes os vestidinhos da mocinha da trama não fizeram sucesso nas ruas?

Muitos podem estar torcendo o nariz por conta da popularidade desse tipo de programa. Podem dizer que se trata de um entretenimento voltado para uma classe mais popular, que possui uma cultura menos aprimorada. Que as histórias são tão-somente calcadas em romances, suas idas e vindas, mas sempre com finais - previsíveis - felizes. Digo-lhes que não é bem assim. Não é tão simples assim
Dias Gomes, um dos nossos maiores dramaturgos, que também tem um trabalho substancial com a televisão, inaugurou com a novela Saramandaia o realismo fantástico no horário nobre. O mesmo foi feito na década de 90 por Benedito Ruy Barbosa com a novela. Pantanal. Dois personagens que se transformavam em bichos: Juma Marruá e o personagem, somente conhecido pela alcunha de Velho do Rio, que viravam onça e cobra respectivamente

O mesmo Benedito em novela mais recente, Cabocla, fez com que um personagem, filho de fazendeiro, rapaz com estudo, incutisse nos peões da região uma consciência trabalhista, haja vista, que esses trabalhadores recebiam seus pagamentos em forma de vale que, por sua vez, somente eram aceitos em uma venda. Ou seja, havia uma espécie de aprisionamento desses caboclos que não podiam fazer o que de fato quisessem com seus ganhos. Ocorre algo semelhante em Germinal, livro cabal da obra de Émile Zola, em que Etienne, jovem egresso de Paris, arruma emprego em uma mina de carvão e, com idéias, marxistas, começa a fazer a cabeça de seus colegas com relação aos direitos trabalhistas.

Os autores das trama, e seus colaboradores, claro, são pessoas com alto grau de instrução e cultura elevada. Sempre que lhes é permitido pela emissora a inserção de elementos com vista à inovação eles o fazem. Mário Prata tentou com Bang-Bang, a criação de uma trama que se desenrolasse em um cenário atípico: o velho oeste. O projeto, até onde sei, não deu muito certo, certamente por conta da falta de costume do público alvo do horário. Inclusive, um outro autor foi escalado para conduzir a trama. Sob nova direção, foi empregado ao folhetim a marca desse outro autor.

Nessa nova das oito da Rede Globo, o que ocorreu foi uma mudança com relação à revelação do verdadeiro autor de um assassinato ocorrido antes mesmo do início da trama. A novela já começa com o assassinato tendo ocorrido. O uso desse artifício – um crime sem que saibamos o verdadeiro culpado - é usado há algum tempo, e geralmente com êxito. Porém, em uma tentativa ousada - digo ousada porque não é marca desse tipo de obra a inovação, ainda mais em se tratando de uma novela que passa no horário nobre e de um autor relativamente novo – o autor João Emanuel Carneiro, decide-se por revelar a identidade da assassina no meio da trama.

A falecida Manchete – produtora da supra mencionada Pantanal – foi das emissoras que mais buscou uma espécie de inovação na produção de suas estórias. A novela Kananga do Japão, por exemplo, foi dirigida pela cineasta Tizuka Yamazaki. Havia, por certo, um interesse na contratação de uma profissional de cinema justamente para que fosse empregado um outro ritmo e visão nas filmagens, o que consistiria em um diferencial. Houve muito esmero na produção dessa novela que, se não fez um arrebatador sucesso como Pantanal, teve uma resposta satisfatória por parte do público.

sábado, 30 de agosto de 2008

Estadunidense


Uma questão que causa um certo burburinho é a de qual seria o gentílico correto daquele que nasceu nos Estados Unidos da América, o famoso United States of América, USA para os íntimos. O mais comum é “americano”. Basta uma rápida folheada em um jornal qualquer e encontramos uma notícia relacionada àquele país em que consta: “os cidadãos americanos...” O termo “norte-americano” também figura com certa assiduidade nos periódicos. Porém, há um terceiro que me agrada bastante: falo do “estadunidense”. Por que esse em detrimento dos anteriores? Analisemos o assunto com calma e sem exaltações, por favor.

O sujeito nasce no Brasil, é brasileiro; nasce na Colômbia, é colombiano; no Peru, peruano e assim por diante. Todos esses países mencionados e outros tantos - um total de 35 (trinta e cinco) - estão localizados no continente americano. Este, como sabemos – não custa lembrar – é dividido em três partes: América do Sul, Central e do Norte. Por que então, chamar os que nascem nos EUA – outra alcunha da maior potência econômica mundial – de americanos se o continente é prenhe de outros países?

Na América do Norte temos outros dois países afora o do tio Sam: México - sim, México sim - e Canadá. Portanto, o termo “norte-americano” também não é o mais adequado, haja vista que de certa forma discrimina os outros igualmente pertencentes àquela parte do continente.

“Antes eram americanos, depois norte-americanos, hoje não passam de estadunidenses”, escreveu Demétrio Magnoli, em artigo publicado no jornal Folha de São Paulo. Concordo. Afinal, americanos somos todos nós que nascemos no novo mundo. Digo sem ufanismo. Apenas uma questão de bom senso. Lingüístico, inclusive.

O termo “estadunidense” existe de fato, ou seja, consta nos dicionários, bem que poderia ser aplicado com mais freqüência. Porém – sempre ele –, o complexo de vira-latas de que falava Nelson Rodrigues não permite que os chamemos assim. Talvez porque o termo em nada se assemelha com o inglês. Americano e american são similares. É possível até mesmo aplicarmos o famoso sotaque, enquanto que o sotaque em “estadunidense” não fica legal, não é? A Madonna falando “americano” – com o sotaque, claro - é possível, é viável, já “estadunidense”...

domingo, 24 de agosto de 2008

Publicidade et literatura


É comum vermos associações entre o jornalismo e a literatura. Bastante compreensível, haja vista que os dois lidam com palavras, e é fato que muitos escritores trabalharam ou trabalham em jornais. Mas aí é que reside o erro: trabalhar em jornal não significa necessariamente ser jornalista. Esses escritores trabalharam em jornais como escritores. Rubem Braga escrevia crônicas, ou seja, trabalhava com criação nos periódicos por onde passou. No caso dele, em particular, se não me engano chegou de fato a exercer a profissão de jornalista, apurador de fatos. Como alguns outros. Mas não todos, que fique claro.

Porém, há outra atividade que tem forte ligação com a literatura e pouco é comentado: a publicidade. Sim, a própria. Apenas para citar um exemplo que pode facilmente ser encontrado é o de Bilac (Falar sobre o inefável). Naquela história (seguindo o manual do Estadão) ele nada mais fez do que desenvolver um trabalho publicitário; foi um redator publicitário. Expôs todas as qualidades do sítio no anúncio para que este fosse vendido. Um slogan bem conhecido de todos é o “Se é Bayer, é bom”. Criado pelo também poeta Bastos Tigre. A frase figura até hoje nas campanhas da empresa.

Li uma entrevista há algum tempo sobre o poeta Nicolas Behr, quando da primeira publicação de um livro seu por uma editora, e ele disse que desenvolveu, também, trabalhos com publicidade.

Lembrei-me também do livro do poeta – e jornalista - José Nêumane Pinto, Barcelona, Borborema, com ilustrações de Francesc Petit – vide Google. Na verdade não somente contém ilustrações do publicitário, mas trata-se de um jogo entre o poema em uma página e a ilustração de outra.

A publicidade está mais próxima da literatura do que se imagina. Na verdade não somente da literatura, mas de outras artes também, até porque ele trabalha com vários elementos, não somente com a palavra. Só com a palavra enquanto spot de rádio, mas e comercias de TV? E banners? E outdoors? E busdoors? E newsletters? (anglicismo até não mais poder) É difícil o labor de um criativo de agência, pois tanto cobram um trabalho bonito, novo, quanto um que de fato surta efeito no consumidor; inovar mas com cautela.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Sex shop


Uma amiga me disse, dia desses, que sua mãe vai montar uma loja virtual. Porém, não uma loja virtual qualquer; trata-se um sex shop virtual. “Mas será que isso dá dinheiro?”, pensei comigo. Pensei comigo se isso realmente seria lucrativo. Vislumbrei então um lado positivo. Todos temos desejos sexuais. É fato. Alguns deles, para algumas pessoas, podem ser facilmente aplacados com artigos que se vendem em lojas desse ramo, mas essas pessoas podem também não ter a “coragem” de procurar esses locais. Por falso puritanismo ou o que quer que seja, a verdade é que muitos não têm.

A idéia de se apoderar do produto sem precisar mostrar a face diante do vendedor ou de qualquer um transeunte que passe pela frente da loja, se afigura como tentador. As puras estudantes de faculdade certamente irão contribuir para o enriquecimento totalmente lícito da mãe dessa minha amiga – e por conseqüência de sua filha que tenho a certeza de que nos momentos de vacas gordas jamais irá se esquecer de seus velhos amigos -, as senhoras de meia idade, solitárias, também têm grande poder de consumo e, certamente são um nicho interessante para o departamento de marketing trabalhar.

Posso até estar enganado dentro da minha ingnorância (sic) nessa área de comércio, tanto como vendedor quanto consumidor, mas tenho cá comigo que aquelas do dito sexo frágil devem ser as que mais se interessam por artigos desse tipo. Completamente compreensível se pararmos para pensar, uma vez que o cão é demasiado dispendioso e o homem tedioso. Elas sempre estão certas.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Falar sobre o inefável


Em determinado ponto do livro A Madona de Cedro, do grande Antonio Callado, o personagem Pedro Sacristão ao ouvir uma conversa que lhe faz despertar uma idéia há tempos adormecida é tomado por uma felicidade sem tamanho, algo que ele não sabe descrever, o tal do inefável. Finalmente ele se deparava com esse tal que muitos falavam, mas que – por ser inefável – ninguém sabia descrevê-lo. Na hora mesmo me deu um estalo: falar sobre o inefável neste modesto blog. Claro que no mesmo momento lembrei-me do falar sobre a falta do que falar, mas não se trata disso, nem mesmo um caminho para abordar tal assunto.

Inefável é aquilo que não pode ser descrito por palavras. O ser humano não se conforma com o inefável, pelo menos aqueles com o espírito mais inquieto. Os artistas, por exemplo. Um do labores do poeta é justamente esse; trabalhar constantemente com o inefável. Aquilo que os mortais não conseguem escrever sobre, vem o escritor e o faz, até que lemos e dizemos: É isso! É isso mesmo que eu queria dizer! Lembro-me inclusive da história de Olavo Bilac. Certa vez um homem que pretendia vender o seu sítio, encontrando com o poeta pede sua ajuda. Pediu que ele, Bilac, redigisse o anuncio para publicar no jornal. O príncipe dos poetas, então escreve: "Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer; com extenso arvoredo, cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeiro. A casa banhada pelo sol nascente oferece a sombra tranqüila das tardes, na varanda". Passado algum tempo, o poeta encontra o proprietário e pergunta se ele conseguiu vender o sítio, ao que esse responde: “Quando li o anúncio e percebi a maravilha que tinha desisti imediatamente de vender aquele paraíso!” Quando o homem comum não consegue o poeta o faz.

O escritor somente conhece a acepção do termo, mas duvida a todo custo de sua veracidade. Esse é o desafio constante do labor com as palavras, a constante superação, o buscar definições diferentes das que já foram impressas, publicadas. O inefável não existe, o que existe é o medo de encarar um papel e caneta ou, nos dias de hoje, uma tela de computador e um teclado para escrever sobre todos os temas que porventura se afigurem interessantes.

domingo, 8 de junho de 2008

Holmes e Churchill em pesquisa no Reino Unido.


Pesquisa recente no Reino Unido indicou que grande parte da população acredita que o detetive Sherlock Holmes existiu de fato, enquanto que o ex-primeiro ministro Winston Churchill foi um mero personagem de ficção. O resultado referente ao personagem de Arthur Conan Doyle não é novidade; há tempos pessoas admiradas com as façanhas do detetive mandam cartas elogiosas e ofertas de trabalho para o endereço do detetive a 221-B Baker Street. As cartas são enviadas ao filho de Conan Doyle – ou eram, pois não sei se o mesmo ainda está vivo.

Esse fato não é de se estranhar. Basta atentarmo ao nosso produto cultural de maior exportação: as telenovelas. Houve casos e mais casos de pessoas que se depararam com o (a) intérprete de vilões dessas atrações e os trataram como se os atores fossem os próprios personagens. Questionam o porquê de suas atitudes para com o mocinho (a), por que não fica com a (o) fulaninha (o) que gosta dele (a) de verdade, por que não regenera.

O outro fato também não é tanto de se estranhar. Caso se pergunte hoje em dia sobre determinadas figuras políticas do passado aqui no Brasil, muitos desconhecerão. Não digo que todos têm a obrigação de saber de tudo em seus mínimos detalhes sobre política – até porque para isso teríamos todos que ser cientistas políticos -, não é isso. Mas me refiro a total falta de conhecimento sobre determinados assuntos capitais à nação. Desconhecem a existência de muitas figuras relevantes em nossa história, e isso independe de classe social; não vá pensar que o “engomadinho” da esquina sabe tudo sobre tudo que não é bem assim, como não pensemos também que aquele cara de jeans, camiseta e tênis é um completo alienado.

O que achei interessante nessa pesquisa é apenas o fato de que ela corrobora o que disse na última linha do parágrafo anterior. Pessoas podem ter a ilusão de que por se tratar de um país de primeiro mundo esse tipo de mácula cultural inexiste, são todos conhecedores de sua história, todos muito bem informados. Não quero denegrir a imagem dos ingleses, de modo algum, quero apenas lembrar que essas questões independem de classe social, país ou coisa que o valha. Essas pessoas alienadas existem em qualquer nação do mundo. Tampouco quero ofender aqueles que desconhecem a história, certamente existem razões para que isso seja dessa forma, razões que não interessam a mim ou a qualquer outro.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

A ciência dos nomes (não confundir com os nomes das ciências).


O que define a escolha do nome de uma pessoa? Quais os processos a serem adotados para nomear uma criaturinha que sequer veio ao mundo, que sequer conhecemos a face (até porque são todos, ao nascer, extremamente semelhantes)?

O mais usual é adotar nomes comuns. Lucas, Gabriel, Cauã – ou Kauã, Cauan e Kauan -, Renato, acredito serem os da vez. Pois, digo-lhes que eu escolheria outros. Gosto de nomes tidos como “nomes de velho”; tal qual o meu. Talvez até por isso mesmo, por ter um nome dessa qualidade – qualidade aqui no sentido de tipo, classe -, eu aprecie os seus semelhantes. Gosto muito, por exemplo, de Heródoto. Se eu tivesse um filho, certamente iria sugerir à minha companheira esse. Se ela o aceitaria eu não sei, seria uma questão de convencê-la de que o nome é bom, merece respeito. Ao conversarmos sobre esse assunto, um amigo disse que o nome é demasiado pesado para um bebê. Discordo, e mesmo que o fosse, ele passará muito mais tempo de sua vida como um adulto do que como um bebê, por isso, a escolha do nome é prenhe de plausibilidade.

Com relação a nome de mulher, eu devo confessar a minha admiração ao bom e velho “Maria”. O nome passa uma certa seriedade, segurança, não sei ao certo. Vão me dizer que é muito comum, porém eu refuto tal afirmação: conheço poucas Marias e muitas Vanessas, Priscilas. Antes de prosseguir – no que culminará no fim desse pequeno escrito -, devo dizer que não desgosto desses nomes. Ao contrário, são belíssimos, e até por isso assíduos na escolha de muitos. Porém, na minha ânsia de originalidade eu escolheria outros. Mas também não por dó e solidariedade aos outros pouco escolhidos, nem um trabalho voluntário a fim de ajudar na manutenção de nomes em extinção, como o já mencionado acima Heródoto.

Uma prática que se tornou comum, principalmente lá pelas bandas do interior do nordeste – mas não somente – foi a junção de nomes, a invenção desses. Pegam partes do nome da mãe, juntam com o do pai e sai daí um terceiro. Do ponto visto romântico é lindo e razoável: nada mais justo do que do fruto físico daquelas duas pessoas, haver também a junção do social (nome). Porém, nem sempre dava muito certo. Os nomes quase sempre soavam um tanto estranho.

Um outro meio – êta povo criativo esse brasileiro -, é a importação de nomes de fora. Mas essa prática, por vezes consiste no nome artístico inteiro da pessoa. Sim, pois na sua esmagadora maioria, esses nomes advêm de pessoas ilustres. Não basta se chamar Michael, tem que ser Michael Jackson. Só não entendo porque ninguém deu ao seu filho o nome de Jean-Paul Belmondo ou Johann Wolfgang Von Goethe. Ao menos eu nunca vi. Já viram?

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Carnaval

O carnaval é para todos, mas nem todos são para o carnaval. Felizmente eu sou. Digo o carnaval de rua, o popular, o da ralé mesmo. Ralé no melhor dos sentidos, claro. Carnaval da Rio Branco é o que há. As clássicas marchinhas de Carnaval sendo entoadas em alto e bom som e o os sambas enredo, hoje considerados marcas registradas de suas agremiações, também se fazem presente. Hoje em dia , então, com o advento da lata de cerveja à R$ 1,00 - isso mesmo um real - nos arrabaldes da avenida popular, só tende a tornar a festa muito mais animada e as mulheres mais bonitas também, como não?

Esqueçamos essa piada sem graça e nos concentremos na festa. Afinal, quando a gente se der conta, já será quarta-feira de cinzas.

Que dia é hoje?

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Anjo Malaquias


Um dos sinais mais indubitáveis de que uma peça teatral é realmente boa, no sentido mais estrito da palavra, é quando você sai do espetáculo meio que tomado ainda pelo ritmo que ali estava empregado. Foi o que aconteceu comigo ao fim do espetáculo “Anjo Malaquias”. Saí lembrando trechos do texto, dos movimentos dos atores, da luz, das imagens que eram exibidas.

A peça é uma homenagem ao poeta gaúcho Mário Quintana (30/07/1906 – 05/05/1994), um dos grandes nomes da poesia brasileira. Mais do que um homenageado o poeta é também o autor dos textos da peça, já que são várias de suas poesias e crônicas que costuradas habilmente por Afonnso Drumond e Eloi Calage constituem o âmago do roteiro. Há também determinadas momentos em que são contados trechos da vida do poeta, como nas partes em que são exibidas cenas de filmes de Chaplin – A Corrida do Ouro – e de Fellini – A Estrada da Vida – para explicitar o amor que Mário Quintana tinha pelo cinema.

Afonnso Drumond encarna o poeta gaúcho enquanto que Fabrício Polido faz um saltimbanco que é o encarregado de contar um pouco da história do homenageado e serve como uma espécie de contra-regra , sendo que é ele quem dispõe o objetos no palco. Este último também cuida da parte musical de tocando acordeão e violão. A segurança com que eles encarnam as suas respectivas personagens é nítido. Não bastasse o excelente texto ainda temos no palco dois atores extremamente à vontade com o que fazem.

O que torna essa peça cara é o fato de não ser um mero recital de poesias, até porque essa seria uma empreitada muito fácil, é mais do que isso: é uma bela associação entre o teatro e a poesia. O modo como eles se utilizam do palco, principalmente Fabrício, é extremamente teatral, aliado também ao cenário simplório e ao mesmo tempo rico, resumido à uma carroça com os objetos que serão utilizados em cena. Puro teatro. Mérito também, é claro, do diretor Delson Antunes que de forma hábil conduz os atores dentro dos limites do palco.

Somos gratos a esse grande poeta, que de diversas maneiras nos toca a alma e peito por demais avassalados por esse mundo vil, mas sejamos gratos também àqueles que fizeram essa peça. Sejamos gratos por utilizarem-se dessa maravilhosa obra que Mário Quintana nos legou não de um modo gratuito, mas com pertinência e com o imenso respeito que ela merece.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Periodicidade


A periodicidade é tida como qualidade. Concordo. Também concordo que nem sempre ela é possível, mas garanto-lhes que será.

Comecemos com um pequeno poema de minha autoria, depois virei com textos maiores para o deleite, senão de vocês, ao menos meu.


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Patavinas de uma vida
resumida ao ostracismo.
Saberia dissimular,
fosse ainda um menino.

Homem já.