segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Telenovelas


No Brasil as telenovelas ocupam um lugar de importância indiscutível. Queiram ou não os intelectuais mais reacionários. Aliás, é um dos maiores produtos de exportação que nós temos. Os personagens das tramas ditam modas de comportamento. Tanto no falar quanto no vestir. Quantos bordões já não caíram na boca do povo? Quantas vezes os vestidinhos da mocinha da trama não fizeram sucesso nas ruas?

Muitos podem estar torcendo o nariz por conta da popularidade desse tipo de programa. Podem dizer que se trata de um entretenimento voltado para uma classe mais popular, que possui uma cultura menos aprimorada. Que as histórias são tão-somente calcadas em romances, suas idas e vindas, mas sempre com finais - previsíveis - felizes. Digo-lhes que não é bem assim. Não é tão simples assim
Dias Gomes, um dos nossos maiores dramaturgos, que também tem um trabalho substancial com a televisão, inaugurou com a novela Saramandaia o realismo fantástico no horário nobre. O mesmo foi feito na década de 90 por Benedito Ruy Barbosa com a novela. Pantanal. Dois personagens que se transformavam em bichos: Juma Marruá e o personagem, somente conhecido pela alcunha de Velho do Rio, que viravam onça e cobra respectivamente

O mesmo Benedito em novela mais recente, Cabocla, fez com que um personagem, filho de fazendeiro, rapaz com estudo, incutisse nos peões da região uma consciência trabalhista, haja vista, que esses trabalhadores recebiam seus pagamentos em forma de vale que, por sua vez, somente eram aceitos em uma venda. Ou seja, havia uma espécie de aprisionamento desses caboclos que não podiam fazer o que de fato quisessem com seus ganhos. Ocorre algo semelhante em Germinal, livro cabal da obra de Émile Zola, em que Etienne, jovem egresso de Paris, arruma emprego em uma mina de carvão e, com idéias, marxistas, começa a fazer a cabeça de seus colegas com relação aos direitos trabalhistas.

Os autores das trama, e seus colaboradores, claro, são pessoas com alto grau de instrução e cultura elevada. Sempre que lhes é permitido pela emissora a inserção de elementos com vista à inovação eles o fazem. Mário Prata tentou com Bang-Bang, a criação de uma trama que se desenrolasse em um cenário atípico: o velho oeste. O projeto, até onde sei, não deu muito certo, certamente por conta da falta de costume do público alvo do horário. Inclusive, um outro autor foi escalado para conduzir a trama. Sob nova direção, foi empregado ao folhetim a marca desse outro autor.

Nessa nova das oito da Rede Globo, o que ocorreu foi uma mudança com relação à revelação do verdadeiro autor de um assassinato ocorrido antes mesmo do início da trama. A novela já começa com o assassinato tendo ocorrido. O uso desse artifício – um crime sem que saibamos o verdadeiro culpado - é usado há algum tempo, e geralmente com êxito. Porém, em uma tentativa ousada - digo ousada porque não é marca desse tipo de obra a inovação, ainda mais em se tratando de uma novela que passa no horário nobre e de um autor relativamente novo – o autor João Emanuel Carneiro, decide-se por revelar a identidade da assassina no meio da trama.

A falecida Manchete – produtora da supra mencionada Pantanal – foi das emissoras que mais buscou uma espécie de inovação na produção de suas estórias. A novela Kananga do Japão, por exemplo, foi dirigida pela cineasta Tizuka Yamazaki. Havia, por certo, um interesse na contratação de uma profissional de cinema justamente para que fosse empregado um outro ritmo e visão nas filmagens, o que consistiria em um diferencial. Houve muito esmero na produção dessa novela que, se não fez um arrebatador sucesso como Pantanal, teve uma resposta satisfatória por parte do público.

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