domingo, 24 de agosto de 2008

Publicidade et literatura


É comum vermos associações entre o jornalismo e a literatura. Bastante compreensível, haja vista que os dois lidam com palavras, e é fato que muitos escritores trabalharam ou trabalham em jornais. Mas aí é que reside o erro: trabalhar em jornal não significa necessariamente ser jornalista. Esses escritores trabalharam em jornais como escritores. Rubem Braga escrevia crônicas, ou seja, trabalhava com criação nos periódicos por onde passou. No caso dele, em particular, se não me engano chegou de fato a exercer a profissão de jornalista, apurador de fatos. Como alguns outros. Mas não todos, que fique claro.

Porém, há outra atividade que tem forte ligação com a literatura e pouco é comentado: a publicidade. Sim, a própria. Apenas para citar um exemplo que pode facilmente ser encontrado é o de Bilac (Falar sobre o inefável). Naquela história (seguindo o manual do Estadão) ele nada mais fez do que desenvolver um trabalho publicitário; foi um redator publicitário. Expôs todas as qualidades do sítio no anúncio para que este fosse vendido. Um slogan bem conhecido de todos é o “Se é Bayer, é bom”. Criado pelo também poeta Bastos Tigre. A frase figura até hoje nas campanhas da empresa.

Li uma entrevista há algum tempo sobre o poeta Nicolas Behr, quando da primeira publicação de um livro seu por uma editora, e ele disse que desenvolveu, também, trabalhos com publicidade.

Lembrei-me também do livro do poeta – e jornalista - José Nêumane Pinto, Barcelona, Borborema, com ilustrações de Francesc Petit – vide Google. Na verdade não somente contém ilustrações do publicitário, mas trata-se de um jogo entre o poema em uma página e a ilustração de outra.

A publicidade está mais próxima da literatura do que se imagina. Na verdade não somente da literatura, mas de outras artes também, até porque ele trabalha com vários elementos, não somente com a palavra. Só com a palavra enquanto spot de rádio, mas e comercias de TV? E banners? E outdoors? E busdoors? E newsletters? (anglicismo até não mais poder) É difícil o labor de um criativo de agência, pois tanto cobram um trabalho bonito, novo, quanto um que de fato surta efeito no consumidor; inovar mas com cautela.

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