quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Pra bom entendedor


Meia palavra basta. Já diz o ditado. Bem que poderíamos dizer: para bom entendedor, um aforismo basta. Aforismos são sentenças que em poucas palavras transmitem uma idéia, um pensamento. Uma linha basta para compor um aforismo. É rápido e rasteiro o danado. Não precisa muito estudo para compreender, basta uma mente esperta, ligada, dotada de um certo senso de acuidade. Pronto.

Eles vêm aos borbotões. Todos inventamos, porém, nem todos guardamos. Quando digo que todos inventamos não estou mentindo, apenas omiti o que se refere à qualidade do que se é produzido. Um aforista que gosto bastante é Daniel Piza. No fim de seu livro Questão de Gosto ele, após excelentes ensaios e resenhas, nos brinda com um capítulo de aforismos. Até mesmo para relaxarmos. Nada de conclusões ao término; aforismos por conta da casa. Todos de sua autoria evidentemente.

Um deles, em particular, sempre me vem à cabeça: “Escrever não é prescrever”. Quantas vezes já não me deparei com escritos imperativos do tipo “faça isso, faça aquilo, faça assim, faça assado”. Há também – e ainda se encontra dentro da abrangência do aforismo em questão – aqueles escritos que somente taxam as atitudes, as coisas de certo e errado. Prescrevendo, desse, modo uma certa cura para alguns comportamentos da sociedade de seu tempo. Claro que não verificamos coerência alguma nesses escritos. Simplesmente impõe uma ordem ao bel-prazer do autor. Nota-se claramente que são trabalhos de principiantes, e pior, sem a menor aptidão para a escrita. Talvez um certo dom para engambelar as pessoas, nada mais.

Outro que se faz presente no livro, e que em época de eleição, será deveras salutar colocarmos aqui: “O Estado é um grupo de pessoas que se esforçam para nos deixar em mau estado”. Essa frase me remeteu a Aristóteles. O filósofo grego classificou três formas de poder: 1) paternal, o exercício do poder em benefício do filho; 2) político, o exercício do poder em benefício de todos; 3) despótico, o exercício do poder em benefício do governante. Não tem como não pensarmos que estamos em uma sociedade cujo poder é despótico. Milhões de reais são gastos em publicidade de obras paliativas dos governos. Um governo de verdade, ou seja, que usasse do poder político em vez do despótico, investiria essa verba em coisas reais, tangíveis.

Claro que os aforismos são carregados de sarcasmo e ironia. Meio encontrado pelo ser humano para não endoidecermos de vez com certas condições de nossas vidas. O sábio da esquina já dizia há muito que o negócio é “rir pra não chorar”. Dito isto, é pertinente a citação de um outro aforista magistral que é Millôr Fernandes: “O homem é um animal que ri, e é rindo que ele mostra o animal que é”.

Um comentário:

Elis disse...

Você escreve muito e bem!!!!! E o muito quer dizer bem tb..rs...

Amando te ler, garoto!!!
Parabéns!!!


Li!!!