quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Balouçar


Era perene a música que se ouvia ao longe. O balouçar também o era.

sábado, 25 de outubro de 2008

O uso correto do magarefe


Tentei por duas décadas. Imaginem vocês. Duas décadas. Passado esse período não consegui mais. Ou era ele ou eu. Chamei, chamei um magarefe amigo meu.

Paronímia


Ao contrário do que muitos pensam, a paronímia não foi inventada pelos Cassetas. Eles sequer cunharam o termo.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

A necessidade ubíqua da criação


Uma pergunta recorrente para quem trabalha com qualquer tipo de construção artística é aquela que ser refere ao processo de criação: como e onde se dá. Certamente o labor em cima da obra é em um local de trabalho daquele artista, mas aquele estalo primeiro ocorre em qualquer lugar, em qualquer situação. Tal e qual a necessidade de beber, que é inerente a nós seres humanos, ela não escolhe um só local para vir. Quando percebemos estamos com sede, seja em casa, na rua. A necessidade de criar também, só que para um número limitado dos mesmos seres humanos, aqueles conhecidos como artistas [1]. Por isso a chamo de necessidade ubíqua da criação. Pois ela se apresenta em todos os ambientes.

Eu mesmo tenho cá na minha pacata vida alguns escritos de minha autoria, pois digo, todos foram gerados num rompante. Essa é a parte não racional do processo, ao menos pra mim. Esse início tem que ser, e de fato o é, totalmente espontâneo. Não adiantaria eu me sentar na cadeira e dizer: “vou escrever um poema, um conto”. Nada sairia. Nada que preste. A idéia inicial surge, sabe-se lá como, e aí, sim, podemos trabalhá-la, lapidá-la.

O escritor Mário Prata já disse que por vezes se viu na situação de não ter como anotar determinada idéia que teve. A solução encontrada foi a de ligar para sua residência e deixar um recado na secretária com a dita idéia. Mas nem todas as idéias que surgem são salvas, muitas se perdem. Hoje a pessoa pode até mesmo gravar no celular, artigo de primeira necessidade para o indivíduo moderno, mas nunca se sabe, o celular pode não estar perto, sem bateria, e aquela idéia que era genial pode se esvair para sempre.

Se bem que nem toda idéia é genial. Lembro-me de uma entrevista do Lenine onde ele disse ter acordado no meio da madrugada com uma idéia aparentemente genial, ele a registra para trabalhá-la em uma outra oportunidade e quando vai ver, nada tinha de mais. Na verdade a expressão por ele utilizada é que era uma merda.

Mas o fato de não sabermos explicar como esse início se dá é o mais interessante no processo de criação. Justamente esse “vir de algum lugar”. Sim, porque a idéia vem por vontade própria, por assim dizer. Isso somente vem provar que nem todos podem ser artistas, pois é algo que é do indivíduo. Ele pode até se descobrir artista com uma idade avançada, mas curso não ensina ninguém tal ofício. Isso somente tende a aprimorar o processo de produção de seu objeto de arte, não incutir a arte na veia do sujeito.


[1] Eu disse artista, não celebridade.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Soho


Caiu. Não disse onde estava, não disse aonde ia. Fiquei com o fone na mão olhando minha face no espelho defronte. Quis pôr no gancho com a esperança de que retornasse o contato. Fiquei parado.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Metrô


Não sei como funciona o metrô em outras grandes metrópoles Brasil e mundo afora. Sei como funciona no Rio de Janeiro, cidade que resido. Sei, mas dispensaria saber se soubesse o que iria encontrar, manja? Conheci mais a fundo quando estagiava em uma localidade em que era preciso migrar para a chamada linha dois. Já disseram que toda experiência é válida. Óbvio que essa frase parte de um princípio apoiado no paroxismo, mas essa experiência específica ao menos serve para dizer neste blog que conheço.

O que pega mesmo é a hora do rush, como os metidos a estadunidenses gostam de falar; a hora que o pessoal vai para o trabalho e retorna para seus respectivos lares, ou respectivos lares de suas respectivas amantes ou amantes ou respectivos motéis em que marcaram com suas respectivas amantes ou amantes. Ou mesmo em respectivos matos haja vista a dificuldade econômica que, em se tratando de Brasil, não é privilégio de poucos.

Ocorre por vezes uma ritualização ao se pegar ou sair do metrô. Há malandragens e mais malandragens. O brasileiro por si tem fama de malandro, o carioca nem se fala, é o supra-sumo. O conterrâneo, para não ficar pra trás, tenta se igualar ao carioca. É possível, inclusive encontramos escolas para que os caboclos vindo de diversas cidades do nordeste saibam chiar, tal qual o carioca eXXXperto. Culpa do capitalismo que ao vislumbrar uma chance de lucro, lá se instala.

Continuemos de onde começamos: o metrô. Quando este se aproxima da estação de transferência, estação Estácio, alguns atletas profissionais (atletas são todos, profissionais são poucos) que sem dúvida estão há mais tempo, se preparam: arrumam os bonés, verificam suas mochilas, conferem o bafo - não me pergunte para quê - e então se postam frente às portas, feito os atletas olímpicos que verificamos em competições oficiais, no que podemos contatar um mundaréu de talentos desperdiçados. Bem no meio porque tão logo já se veja uma brecha para sair ele parte. Partiu. Com pressa. Chega a segurar o boné para não voar tamanha a pressão do vento com o seu movimento. Pula alguns degraus da escada. São dois lances, desce da mesma forma que antes. Chegou. Droga! O filho da puta do metrô não está. Eu, como não corro para pegar o metrô, nunca vi a cara de frustração de um desse competidores. Sim, porque correr daquela forma para chegar e não ter nada, no mínimo é desanimador. Broxante, par usar de termos sexuais práticos para que todos possamos gozar – agora sem cunho sexual – destas linhas.

Para quem pensa que a aventura está finda, comete um ledo engano. Há ainda a parte de entrar no outro metrô. As pessoas se colocam frente à porta empurram umas as outras, tudo para conseguir um lugar ao sol, digo, ao banco. Não entendo porquê se em muitos casos, como era o meu, a pessoa está se dirigindo ao trabalho onde ficarão o dia inteiro sentados. Já pensei que pudesse se tratar de uma questão de exercício, talvez aquele monumental esforço do nosso amigo corredor valha por uma caminhada moderada de alguns minutos. Resta saber se ele consultou um médico, se faz alongamento antes.