quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Anjo Malaquias


Um dos sinais mais indubitáveis de que uma peça teatral é realmente boa, no sentido mais estrito da palavra, é quando você sai do espetáculo meio que tomado ainda pelo ritmo que ali estava empregado. Foi o que aconteceu comigo ao fim do espetáculo “Anjo Malaquias”. Saí lembrando trechos do texto, dos movimentos dos atores, da luz, das imagens que eram exibidas.

A peça é uma homenagem ao poeta gaúcho Mário Quintana (30/07/1906 – 05/05/1994), um dos grandes nomes da poesia brasileira. Mais do que um homenageado o poeta é também o autor dos textos da peça, já que são várias de suas poesias e crônicas que costuradas habilmente por Afonnso Drumond e Eloi Calage constituem o âmago do roteiro. Há também determinadas momentos em que são contados trechos da vida do poeta, como nas partes em que são exibidas cenas de filmes de Chaplin – A Corrida do Ouro – e de Fellini – A Estrada da Vida – para explicitar o amor que Mário Quintana tinha pelo cinema.

Afonnso Drumond encarna o poeta gaúcho enquanto que Fabrício Polido faz um saltimbanco que é o encarregado de contar um pouco da história do homenageado e serve como uma espécie de contra-regra , sendo que é ele quem dispõe o objetos no palco. Este último também cuida da parte musical de tocando acordeão e violão. A segurança com que eles encarnam as suas respectivas personagens é nítido. Não bastasse o excelente texto ainda temos no palco dois atores extremamente à vontade com o que fazem.

O que torna essa peça cara é o fato de não ser um mero recital de poesias, até porque essa seria uma empreitada muito fácil, é mais do que isso: é uma bela associação entre o teatro e a poesia. O modo como eles se utilizam do palco, principalmente Fabrício, é extremamente teatral, aliado também ao cenário simplório e ao mesmo tempo rico, resumido à uma carroça com os objetos que serão utilizados em cena. Puro teatro. Mérito também, é claro, do diretor Delson Antunes que de forma hábil conduz os atores dentro dos limites do palco.

Somos gratos a esse grande poeta, que de diversas maneiras nos toca a alma e peito por demais avassalados por esse mundo vil, mas sejamos gratos também àqueles que fizeram essa peça. Sejamos gratos por utilizarem-se dessa maravilhosa obra que Mário Quintana nos legou não de um modo gratuito, mas com pertinência e com o imenso respeito que ela merece.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Periodicidade


A periodicidade é tida como qualidade. Concordo. Também concordo que nem sempre ela é possível, mas garanto-lhes que será.

Comecemos com um pequeno poema de minha autoria, depois virei com textos maiores para o deleite, senão de vocês, ao menos meu.


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Patavinas de uma vida
resumida ao ostracismo.
Saberia dissimular,
fosse ainda um menino.

Homem já.