segunda-feira, 15 de setembro de 2008

A questão da vaia


Já fiz parte de uma banda de rock’n roll chamada Vaia. Isso mesmo, Vaia. O nome pode – como de fato sempre faz – causar uma certa estranheza à primeira audição. As pessoas sempre perguntavam se o nome foi baseado em alguma vaia que por ventura tenhamos recebido. Respondia sempre que não. De fato nunca fomos vaiados. As pessoas então perguntavam o porquê do nome. Há, caros amigos, uma explicação. Explicação tão cara que faço questão de expor nesse blog.

A vaia, ao contrário do que muitos, a maioria esmagadora, pensa, não é um sinal de falta de qualidade do trabalho apresentado, e sim, de desaprovação por parte do público presente. É muito diferente. Isso pode ocorrer por diversos fatores. Por exemplo, muitas vezes o artista está à frente de seu tempo, ousa mais do que é permitido por uma sociedade de visão tacanha. Ou simplesmente o público não consegue acompanhar a evolução do artista na mesma velocidade que ela segue.

Bob Dylan trocou o violão pela guitarra elétrica. Alguns fãs, à época desaprovaram com veemência, queriam que ele passasse o resto da carreira fazendo o que já tinha feito. Como artista ele sentiu necessidade de tentar, arriscar, ousar. A função do artista é se superar, não fazer o que já foi feito. No documentário No Direction Home, de Martin Scorsese, podemos verificar uma grande vaia para o artista em uma apresentação com guitarra e uma banda de apoio.

Outro exemplo, ainda dentro do campo musical, é o caso da música “Sabiá” de Chico Buarque e Tom Jobim. Os dois compositores foram os grandes vencedores do III Festival Internacional da Canção. Porém, um maracanãzinho lotado os vaiou. A eles e a Cynara e Cybele, intérpretes. O público queria que o primeiro lugar fosse para Geraldo Vandré e a sua “Para Não Dizer Que Não falei das Flores”, canção interpretada como convite à luta armada.

Para não dizer que os exemplos se limitam ao campo da música podemos lembrar também o caso de Anton Tchecov. A primeira encenação de A Gaivota foi um fiasco, tanto que o autor sequer ficou até o término da apresentação, saiu pela tangente. Hoje a peça é considerada um clássico do teatro mundial.

Não é difícil encontrar outras situações em que, se não houve vaia propriamente dita, houve um descaso por parte de público e crítica e, passado algum tempo a qualidade artística finalmente foi constatada. Van Gogh ilustra bem essa idéia. Quando vivo, vendeu apenas um quadro e hoje, suas obras valem milhões.

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