terça-feira, 21 de outubro de 2008

A necessidade ubíqua da criação


Uma pergunta recorrente para quem trabalha com qualquer tipo de construção artística é aquela que ser refere ao processo de criação: como e onde se dá. Certamente o labor em cima da obra é em um local de trabalho daquele artista, mas aquele estalo primeiro ocorre em qualquer lugar, em qualquer situação. Tal e qual a necessidade de beber, que é inerente a nós seres humanos, ela não escolhe um só local para vir. Quando percebemos estamos com sede, seja em casa, na rua. A necessidade de criar também, só que para um número limitado dos mesmos seres humanos, aqueles conhecidos como artistas [1]. Por isso a chamo de necessidade ubíqua da criação. Pois ela se apresenta em todos os ambientes.

Eu mesmo tenho cá na minha pacata vida alguns escritos de minha autoria, pois digo, todos foram gerados num rompante. Essa é a parte não racional do processo, ao menos pra mim. Esse início tem que ser, e de fato o é, totalmente espontâneo. Não adiantaria eu me sentar na cadeira e dizer: “vou escrever um poema, um conto”. Nada sairia. Nada que preste. A idéia inicial surge, sabe-se lá como, e aí, sim, podemos trabalhá-la, lapidá-la.

O escritor Mário Prata já disse que por vezes se viu na situação de não ter como anotar determinada idéia que teve. A solução encontrada foi a de ligar para sua residência e deixar um recado na secretária com a dita idéia. Mas nem todas as idéias que surgem são salvas, muitas se perdem. Hoje a pessoa pode até mesmo gravar no celular, artigo de primeira necessidade para o indivíduo moderno, mas nunca se sabe, o celular pode não estar perto, sem bateria, e aquela idéia que era genial pode se esvair para sempre.

Se bem que nem toda idéia é genial. Lembro-me de uma entrevista do Lenine onde ele disse ter acordado no meio da madrugada com uma idéia aparentemente genial, ele a registra para trabalhá-la em uma outra oportunidade e quando vai ver, nada tinha de mais. Na verdade a expressão por ele utilizada é que era uma merda.

Mas o fato de não sabermos explicar como esse início se dá é o mais interessante no processo de criação. Justamente esse “vir de algum lugar”. Sim, porque a idéia vem por vontade própria, por assim dizer. Isso somente vem provar que nem todos podem ser artistas, pois é algo que é do indivíduo. Ele pode até se descobrir artista com uma idade avançada, mas curso não ensina ninguém tal ofício. Isso somente tende a aprimorar o processo de produção de seu objeto de arte, não incutir a arte na veia do sujeito.


[1] Eu disse artista, não celebridade.

Um comentário:

Elis disse...

risos....E o que você faz com idéias geniais que se foram, por falta de tempo/espaço pra cultivá-las? Não fica a sensação de meio-morte? Deveria haver um "Céu das idéias geniais perdidas" ,né? O problema era ir até lá...risos..
Beijos e boa semana!
Li!!